Foi ai que a vi, ou melhor, vi suas pernas estendidas na cama. Quem era aquela mulher que estava deitada num apartamento vizinho uns dois andares abaixo do meu e que eu nunca tinha visto. Estava vestida com uma calça jeans, sem sapatos. Isso era tudo que eu conseguia ver. Prestei atenção em seus pés. Bonitos com aparência macia. Pés bem tratados de unhas feitas e esmalte claro. A calça jeans ligeiramente desbotada era justa em suas pernas. Ela girou o corpo e suas pernas acompanharam o giro. Estava agora quase de costas pra mim e parecia se esticar para pegar alguma coisa do seu lado direito. Talvez fosse um livro. Se mexeu novamente voltando a posição original, mas descendo um pouco o corpo. Agora eu conseguia ver seu corpo até quase a cintura. Via até onde a camiseta branca encontrava a calça de cintura baixa. A camiseta, com o movimento, subiu um pouco deixando mais uma nesga de seu corpo aparecendo. Não conseguia afastar o olhar. Esqueci do remédio. Peguei apenas um copo d’água e continuei na janela torcendo para que as cortinas daquela casa nunca fossem fechadas. Ela então dobrou uma das pernas. Parecia não achar uma posição confortável. Com dedos experientes desabotoou a calça e em apenas um movimento puxou o zíper para baixo.

Em minha imaginação puxei sua calça mais pra baixo e pude ver toda sua calcinha. Cheguei minha boca perto de seu rego que se mostrou ainda mais ao me sentir chegar. Mordi sua calcinha e a puxei pra baixo. Seu quadril se mexeu como quem pede mais. Corri minha língua em sua pele macia. Excitada, aumentou o ritmo. Sentia seu perfume de mulher enquanto minha língua procurava um lugar mais úmido.
Minha imaginação se misturava com minha visão de tal maneira que não sabia mais se aqueles quadris estavam se mexendo pra mim ou não. Não importava. Era assim que os via. Desci mais sua calcinha e senti sua umidade em minha boca. Ela estava pronta para mim. A penetrei por trás enquanto mordia sua nuca. Mergulhei meu rosto em seus cabelos sedosos enquanto tocava seus seios. Ela se deixava penetrar como se tivesse sido sempre minha.
Uma campainha tocou e me trouxe de volta a realidade. Já não a via mais. Onde ela estaria? Não voltou a se deitar naquela noite antes de fechar a cortina do quarto. Fui tomar um banho morno.
No dia seguinte ao chegar do trabalho tomei o elevador e logo atrás de mim entraram vários moradores. Uma mulher me olhou com curiosidade. Reparei que estava de jeans. Era o mesmo jeans que tinha visto na outra noite. Foi ela que puxou conversa.
“Era você que estava ontem olhando distraído na janela?” – perguntou
“Era sim.” – respondi sem graça.
“Acabei de me mudar para essa cidade e não conheço ninguém.” – disse ela
“Moro aqui há anos e também não conheço muita gente. Que tal sairmos pra bater papo. Conheço um barzinho...”
“Acho ótimo, vou tomar um banho, trocar de roupa e te encontro na portaria daqui a uma hora, tudo bem?”
“Posso te pedir uma coisa? Não troque esse jeans” – falei sem jeito
Ela deu um sorriso e saltou em seu andar.
Um comentário:
De respiração suspensa cheguei ao final desse conto. Sublime, erótico, avassalador, sensível, terreno. Nossas fantasia evadidas em uma janela à noite...nossas predições de fantasias por se realizar em encontros fortuitos. Helô quem escreve como você está para além de qualquer comentário possível. Me vi no conto, me senti no conto, ora fui tritão, ora fui sereia. Um exercício de dualidade muito possível pelo encantamento da suas palavras. Parabéns, é perfeito!
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